É
preciso que a sociedade e a “instituição arte” pense o artista
como trabalhador, mas antes, que o artista pense a si próprio como
trabalhador - um trabalhador muito particular, um produtor de
esteses, de caráter inquieto, curioso e avesso a acomodação. Um
trabalhador que aponta novos caminhos, desvela contradições, propõe
reflexões, põe à luz opacidades, recompõe o sujeito. Capaz de
transformar a realidade através do seu próprio trabalho – como
todo trabalho é - o artista, mais além, assume a sua condição de
“antena do mundo” e deflagra “guerra” ao sistema, onde sua
arma é a arte. Este artista se vê envolvido em luta permanente com
a sociedade e a “instituição arte” que por sua vez sempre
buscam trazer o artista para formas canônicas de representação -
gostos e estilos historicizados e preservados por grupos sociais dominantes.
O artista
sabe – ou deveria saber - que a representação em geral é uma
forma de ação política que não se desvincula jamais das condições
materiais e históricas dadas. A velhas formas de
representação: de uma arte “inocente”, a-histórica,
transcendental, intuitiva, subjetiva - herança do individualismo
burguês - já não mais se sustentam. O artista é
consciente do seu trabalho, que produz por um processo sempre
refletido e objetiva uma arte que quer a divergência, quer ser a
tudo antagônica, sendo em tudo alternativa ao estabelecido, sendo em
tudo luta. Ao invés de aceitação, ajustamento, efeito, formação, reprodução.
Uma arte desse tipo deverá ser, necessariamente, não encomendada. Arte
que propõe esteses e que ao mesmo tempo produz conhecimento
capaz de transformar a realidade.